5 de Setembro de 2017
Era uma mulher, 30 anos. A idade da mudança, da virada, o marco, a idade balzaquiana. Ela já havia lido o romance “A Mulher de Trinta Anos”, de Balzac, e mesmo ele tendo sido escrito no século XVIII para ela o livro era muito atual.

Solteira, fora dos padrões, atolada em livros e papeis em casa e no trabalho; recepcionista de livraria e também a responsável por organizar o estoque.

Da poesia à informática; conhecia de tudo um pouco nas horas de folga.
De muitos amigos; todos os clientes gostavam dela, era a mais sábia conselheira e leitora de orelhas de livros.

Um dia uma pisada diferente chamou-a atenção. Desengonçado, cadarços desamarrados, ele bateu na campainha do balcão.

– Moça, me ajuda, por favor. Só tenho essa quantia de dinheiro e preciso de um livro que soe inteligente para dar de presente ao meu avô.

A rima nas palavras dele a fez rir, discretamente, para não assustar o tão amável novo cliente.

Ela respondeu de bom grado:

– É claro que eu ajudo, mas antes amarre seu cadarço.

Ele também riu da rima e abaixou-se apressado. Andaram entre as muitas estantes, e conversaram sobre os livros e a vida. Pareciam se conhecer a muito tempo, durante toda a existência.

Pararam na sessão de culinária e acharam que seria um bom presente.

– Fazer comida requer muito amor, quer inteligência maior do que saber amar? , disse ela com o rosto ruborizado.

Ele atento aos sinais concordou de imediato e disse:

– Estou me sentindo mais  inteligente do que a 40 minutos atrás.

Eles riram juntos.

O livro de receitas foi embalado para presente. A livraria fechou mais cedo. O amor foi o prato principal daquela noite e de todas as outras em que permaneceram juntos.

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